quinta-feira, 31 de março de 2011

Carmem

Seria então empáfia?
Acho difícil...
Tristeza? Por que não?!
Ouvi rumores de sua vida, bem superficiais, confesso.
É que nada foi fácil pra ela, enfrentou, muito nova, os dissabores da vida, já no primeiro amor, foi trocada por seu melhor amigo gay.
Ela jamais falou sobre isso, nunca foi de muitas palavras, resolveu logo, cortou os pulsos, fracassou. Desde então, adotou o vermelho em suas roupas.
Recuperada, refeita, mais esperta, montou um bordel. Ía tudo muito bem, obrigado, dizia ela, quando curiosos lhe abordavam sobre o assunto.
Ía bem... até o dia do incêndio, tudo queimado, dizem as más linguas que até um corpo foi encontrado carbonizado, preto, mais preto que o preto que há.
Ela que não era de muitas palavras, ficou de poucas, aderiu a cor preta às suas vestes, e pra ser sincera, podia ser quaisquer cores que ela usasse, que continuaria apagada, mesmo o preto com vermelho não realçavam em seu corpo esguio.
Foi porém, que ela decidiu outro rumo dar em sua vida, silenciosa, voraz... ela foi...
Para outro país, continente... sei lá, mas foi, onde havia frio e neve, muita neve (acho que o fogo passou amedrontá-la).
Lá enfim, ela mudou, estava fina em seu jeito de estar, vestir, dizem que exalava glamour... Ah! encontrou também o amor, e esse vivia para ela, por ela, onde estava um, podia encontrar o outro. Embora não esboçasse um sorriso se quer, dizem que ela estava feliz.
E como tudo sempre durava pouco, e nunca o suficiente pra ela, dessa vez não seria diferente.
Acordou com a notícia de que seu amado "até então", enquanto esquiava sofreu um acidente, quebrou o pescoço, morte imediata.
Ela não chorou, não sorriu, virou para o lado e continuo a dormir. A tristeza acabaria então de habitar-lhe, tornando-se gelo em sua alma, pele e tudo mais que a envolvia.
Ela mudou desde então, descobriu o verdadeiro amor, "ela mesma", e foi assim que se tornou quem hoje é, uma MULHER, longe da que conheci.
De uma personalidade forte e marcante, ela se decifra em cada centimetro, nas atitudes, gestos, roupas.
Palavras pra ela, hoje são supérfluas, já não se ouve mais sua voz, não precisa emitir um som que seja, para se impor, tudo nela fala por si só. E quando algo não lhe agrada, continua ela, imóvel, calada, gélida...
imponente nas mínimas expressões.
Realmente... já não é a mesma... tudo mudou... e o nome também.
Hoje Carmem.
Escandalosamente Carmem.
E olhando para ela, percebe-se que é mais que suficiente.
Carmem.




Por Agda Brisot